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Mostrando postagens de 2018

Aroma de multidão

Talvez o que eu mais goste em você seja o seu perfume barato. Qual a vantagem de beijar alguém que cheira a flor roxa o imalaia e não encontrar o seu perfume na baldeação do metro desavisada as sete e quinze da manhã? Um recado desenhado no cangote de um estranho que me lembra o teu sorriso Uma alegria classe C que se parece com uma senhora de unhas compridas me oferecendo uma revista de cosméticos e uma caneta azul Um prazer que me presenteia pouco antes de eu guardar minha marmita na geladeira Uma coisa que só tem quem abraça essa sua graça toda e fica pensando depois em te ver passar Que saudade E você passa No cangote de outra pessoa Tanto mensageiro seu Feliz de quem Jequiti© pode te sentir no meio da multidão.

Maturidade

Com a boca pequena que abriga dentes de leite, mesmo sem ter ainda alguns dos molares ela já aguenta ser o pedaço de carne do meu sanduiche Anda por aí com a musculatura firme de quem pula corda Com o olhar de quem escreve segredos num diário e depois os guarda com um cadeado vagabundo, desses que só não arromba quem não quer A merenda não me engana, nem os desenhos animados Não me engana a cara de quem não sabe do que se trata Eu pessoalmente não acredito num Deus que não dance Nas palavras de uma menina que dança acredito menos ainda.

Prioridades

Eu queria falar de sexo molhado e borboletas na barriga, mas é que na bolsa eu só tenho três chaves num chaveiro de uma ótica, um bilhete com pouco crédito, culpa e poucas horas de sono. Vou chegar em casa pra dormir, perder a batalha da faxina e me arrepender. Eu queria falar de cigarros na janela, noites vadaras na rua e alcolismos, mas é que eu penso em cesta básica e isso não combina com festivais de cinema e musica experimental.
Leucócitos analfabetos me defendem Eles nem leram suas cartas E suas camisetas Não tem a menor necessidade Qualquer coisa que apanha sabe que tem de se defender Os merecimentos é que precisam de leitura, estudo e alfabetização. Viver de amor magro é coisa de quem não enxerga os próprios braços pra levar a colher a boca. 
por todos esses fios na sua cabeça varreriam dinossauros da face da terra novamente se quisessem e pelos seus olhos que me deixam alegre até quando perco minhas chaves e o bilhete do metrô antes de sair de casa pela sua boa quente e tão confortável talvez o cômodo mais confortável da casa pelas suas meias e familiares eu passo por todos seus predicados antes de vomitar suas palavras feias sozinha no banheiro, ajoelhada no chão úmido segurando meus próprios cabelos.
Tem o escuro e tem você minha luz do banheiro acesa Toda a sua poesia de vida e morte Esse seu jogo de morrer um pouco todo dia Pela boca Seja de azia ou má intensão Tem sua pele de lençol no varal  que brinca de voar As vezes vento As vezes ninho Vem e me cobre e me fala baixinho: Troxa...
Eu escrevi poemas, derramei lágrimas Não é de bom tom você não aparecer Ouvi músicas, pensei em tatuagens, Que ser humano não se comoveria com tatuagens? Parei de te seguir por respeito, Eu queria era encontrar nem que fosse um parente seu eu ia abraça-lo tão forte que estremecesse  sua árvore genealógica Pra que você me sentisse Tua boca de gelo Tuas mãos amarradas Os olhos perdidos em algum lugar dessa aurora Eu muda Gritando sangue e muda Falando baixo e muda Silenciosa e muda Eu não chego na sua corte Não ando na sua guia, pé ante pé, esticando os braços pra me equilibrar Eu não caibo em nenhum dos potes de plástico do armário da sua cozinha Menos ainda os de margarina Me mudo Nova casa Mudo Nova vida Mudo Como vai? Mudo Silenciosa Mudo.
é algo entre estar de luto e nunca ter vivido um vulto, um ruído, um incômodo. olhar as lembranças todas embaçadas o olhar todo embaçado já não faz sentido nem contar as histórias nem citar seu nome uma neblina densa cobriu tudo e por mais que eu saiba que tudo está lá eu não vejo depois eu nem sei mais se ainda está lá. aí depois parece que eu estou no céu no meio das nuvens quem está na neblina não deixa de estar no céu o céu é um conceito pra cima do chão tudo é céu tenho dúvidas sobre o conceito de céu tenho dúvidas sobre o conceito de morte devo estar no céu, não sei se morri, sei que isso não é vida.