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Mostrando postagens de 2015

Marfim

Um cigarro molhado contava como estavam as coisas, nada muito certo, só um monte de suposições, lembrava da tela cheia de notícias, na perna sentia as carícias da chuva e das gotas de sal. Já sucumbira a quase todos os vícios,  carne, tabaco, açúcar, mentiras, solidão. Pensou em pousar em hospícios, Na maré cheia de ingratidão. Juntou uns versos, umas tintas e umas dores, pensou em todos seus amores, criou uma coroa de flores para enfeitar o seu fim. Não ia mais viver aquilo, não tinha mais sentido isso, ia ser de outro jeito  já não cabia ser assim. Se jogou no verso e na prosa, cheirou aquela antiga rosa, dançou, pintou, ditou sedosa, na arte renasceu Marfim.

Novamente

Novamente. Outra vez. Cíclico. Sempre. Sorte. Sina. Mina. Nós. O que ela viu e gostou, o que você sentiu e desgarrou, o que estava jorrando e estancou, agora vejo onde estou. Tentando dominar os medos e desejos tentou escrever suas noites tristes num papel de pão, quis fingir que sofria pra não ter de sofrer em meio a lampejos de futuros e De passados festejos Não saiu diferente da maldição. Édipo tentou fugir. Não deu. Em cada passo um pouco de tudo isso. Novamente.

Nós e os nós.

Laços, nós, cegos, nós. Uma chuva forte que a gente vê da varanda. Melhor, Uma chuva forte que a gente vê passar por cima da gente, vê chegar. Vê molhar. Vê indo embora. Mais um clichê, mais de você, muito além do que se vê. Gotas pra molhar o chão fértil, gotas pra fazer crescer flor, gotas que não são só de chuva, diversas gotas de amor.

Na ida e na vinda

Não vai crescer não vai dominar vai se transformar em admiração vai ser lindo, linda. Aí sim vai ser grande vai me fazer grande vai ser bela canção vai ser na ida e na vinda. Leve, um leve bom. leve, deixe, se quiser, se puder, se for ainda

Pequena

parecia forte decidida certa de tudo na vida parecia taquara que arqueia mas não apara logo ela que dizia que toda ferida sara parecia que ia ser fácil que não ia fisgar que toda essa posse não ia nos alcançar parecia que seria suficiente mas a gente combinou de não nivelar por baixo de que adianta parecer ser grande se tão pequena nos teus braços. diante de mais um desengano só consegue-se chegar a conclusão de que de nada se pode ter certeza no meio da Neblina.

No ar

Caem as folhas, caem as pétalas, caem as certezas e lágrimas. Neblina de tarde de inverno, bruma quieta, sina modesta, imenso caos interno. Na linha torta onde se escreve o caminho, na planta morta que vejo no vasinho, Na cantora que nem me conhece e me dita. Em tudo eu. Em tudo só. Em tudo uma possibilidade E sempre a estranha sensação de quase flutuar.

Céu

Uma história coberta de hipocrisia Filha de nordestino praticando xenofobia Não queria ser Salgueiro, Não queria o nome de pobre dos meus pais, Não queria um bairro negreiro, uma cabeça chata, meus ancestrais Eu não rinha raízes, não conhecia meu povo, Daqui tiraram tudo, toda a força, a cara, o ouro. Nunca pintei a cara, nunca pulei no rio, nunca bati tambor. Nem nativa, nem preta, um projeto de colonizador. Eu tinha medo da violência,  eu assistia Datena, Eu acreditava em tudo que vinha daquela antena Sinto por muitos de nós que ficaram pelo caminho, mas sinto que o movimento pode ser ser um ninho Que te dá proteção e te mostra que o voo pode ser alto que você é capaz de voar, que é sua a praça, a escola, o asfalto na intensão de me por numa gaiola me rouba os sonhos, auto-estima, me viola Eu pego essa viola e declamo meu cordel Bato tambor, sambo na roda e faço da quebrada meu céu.

Primavera, peito e cimento

O vidro não te deixa dormir, As pessoas falam alto, As mesmas musicas gastas e opacas me falam de amores de cais. Do pouco entendimento me vêm a mente cenas imortais. Com a força da natureza, com um brilho de pura beleza, As cores, e flores e tons colorem essa cidade. Na vontade de vossa alteza, no calor e no frio põe a mesa inspiração que me vem de verdade. No canteiro do peito botões e folhas verdes, vestida de flores vou. Num olhar mais atento nota-se que aqui primavera já chegou...

Duas flores

Em tuas mãos fui deixada, em vagos olhares descrita, um norte visualiza  sua cor favorita. De perto vi outra flor sem cheiro e sem vida verde matéria fria, inverdade verdadeira fonte de sede Eu sim e ela jamais, eu branca e ela vermelha, eu vida e ela intensão de se fazer verdadeira. Eu presenciei o momento, eu vi que não era por mal, eu sei que o fundo do peito é canteiro de flor no quintal.

Mel, xi...

De quanto tempo se precisa para apagar uma estrela? Ou derrubar verdades de uma vida inteira... Quanto tempo se gasta fazendo um buraco  num peito, um leito para ser enterrado? Se aceitas esse céu que pensas merecer estraçalha um sublime e sincero querer Por que tanto gosto amargo?     Para                                                     Pensa                                                   Pulsa                                                                                  Pula.

Ser mulher

Andando na plataforma de maneira desconfiada com um olho nas minhas costas com o outro na cara fechada me sentindo uma gladiadora na cova com muitos leões uma vida tão reveladora me ensinou várias lições Hoje eu não tenho mais medo não me assusta a testosterona eu já fui pavor e segredo hoje deixo vir tudo a tona Eu ando nessas ruas e becos paço pontes e enfrento vagões olho firme e não esmoreço olho feio e julgo os machões Tenho todo um discurso pronto tudo o que eu devia falar se aparece na frente um desses querendo desrespeitar Isso é um triste produto de uma história muito antiga um mundo que cria vilãs desunidas e falsas amigas Todas tão reclusas e santas todas tão sozinhas feridas dividindo o mesmo chão indagando os porquês da vida Ser mulher, ser luta e ser dor, ser assim  desprotegida Eu não sei bater, não sei por um soco na cara inimiga Mas sei tão bem esconder, sei fingir e fechar as pernas Eu sei ler e escrever mil mentiras na minha

Posse

Todas as palavras, todos os olhares e os pensamentos, todas as risadas e espirros , tudo. As senhas, as mensagens, as vontades e ressentimentos. Sempre. Uma vida. Enche os olhos e esvazia o peito.

Mundos imaginários.

Talvez um dia o vento sopre pro lado que não faz o cabelo voar no rosto e entrar no olho e na boca  Era pedir demais. Foi até o ultimo andar pela escada de incêndio e disse pro vento: -Sopra isso tudo pro lado que você quiser!  Mas para de soprar no meu peito!  Por favor... Ele soprou em tudo quanto foi lugar. Na vida a gente é cata-vento, só não gira quando não é mais.

Irreconhecível

Cantareiras transbordam um tom mexicano e quase cômico vira do avesso a dor de dente. Um dia longo não é o bastante, uma festa longa não é o bastante, uma noite mal dormida não é o bastante. Tudo é miseravelmente ridículo e justo. E tudo que amarra e cega vira pó num click. O mundo não é só meu. A vida é foda pra todo mundo. Como soa bem...

Drama

Eu não acho saldável também, se eu pudesse eu mudava. Infinitas vezes meu auto desdém afirmava. Uma cratera no peito um choque profundo tudo que se tem direito de doer no mundo. Esperando a noite passar, e os dias, e as dores, e os pesos, e só ficar pensando em como seria se não fosse. Como água na mão que só quer ir pro chão e insiste em passar pelos dedos.

Sendo

Como uma placa que indica o caminho errado, como um pote de sorvete cheio de feijão na geladeira, como quando acabam de comer alguma coisa perto da pia onde você lava louças e assim que você termina te entregam um novo prato, como quando você percebe que corrigiu o gabarito errado e na verdade você não acertou, como quando você vai fazer careta pra um bebê fofo e ele chora, como quando você chega de viagem e percebe que tem que arrumar as malas, como quando você descobre algo ruim sobre seus pais, como quando você descobre algo ruim sobre você. Como se fosse mentira, mas é verdade. Como a reprise de "A lagoa azul" na seção da tarde. Ser, estar, viver algo assim. Dava pra dormir sem.

Dissimulada

Dentro do quarto. Dois olhos. Duas Mão. Muitas lembranças e uma carta. Maldita e cínica. Quem depois de tudo tem coragem de dizer tudo em tom de poesia? Ninguém merece algo desse tipo. Independente disso os olhos pularam para carta, que por mais tudo isso fosse, era a ligação com tudo aquilo, era a única coisa que por uma maldição se podia querer. Os olhos leram. Eu não sei ser uma boa companheira, mas isso não significa que eu não te ame. Não sei amar fácil, só sei complicar. O que ouvi foi do poeta, não do orixá, Se dói tanto quanto é bom esse é o melhor amor do mundo. Queria te dar todo amor do mundo, ou ao menos o que houvesse em mim,tenho coisas que não deverias ver, ter, sentir. Sou tão má quanto apaixonada, ruindade inconsciente, coisa que deve ser guardada, seu amor de pandora não entende. Fui trilhando em paralelo meu afago e meu sufoco, não é justo que eu te ponha nessa história como um louco. Hoje sou clichê, sou memória, sou sozinha, só uso uma parte da minha linh